A tempestade passou; agora o que ficou foi um nevoeiro espesso, que não me deixa ver além de onde minha luz chega, o que é bem perto por sinal. Nevoeiro gelado, como tudo por aqui, o que deixa minha alma um pouco mais fria.
Só não nos perdemos aqui, porque a chama que está acesa dentro de nós é eterna, e nada nunca vai conseguir apagá-la. Ela foi acesa por uma parte divina que existe em nós, e que acontece quando encontramos alguém especial, alguém que possui a luz da nossa vida. E eu já encontrei minha eterna inspiração, que não importa onde esteja agora, ela continua a brilhar e me aquecer por todo o sempre.
Nessa nuvem espessa que cobre tudo, só o que me guia são meus sentidos, e meus sentimentos. Agora já sei o que estou procurando, mas não é tão fácil de achar. É a entrada para o mundo chamado aqui de “real”, onde estão as luzes que sobraram, e que estão à espera de alguém para estar ao seu lado por toda a eternidade.
Procuro não pensar em mim agora, pois não faço idéia do que vai ser minha vida no futuro, já que o destino me colocou à provação num momento de fraqueza, e falhei. Agora, o mais importante é que minha inspiração continua viva, feliz e acreditando no caminho que escolheu. Mais importante do que fazer, é acreditar.
Ainda existem alguns sopros de vento em meio ao nevoeiro, e agora escuto gritos horríveis de desespero espalhados pelos cantos deste cataclisma psíquico.
É difícil ouvi-los, e continuar caminhando sem fazer nada; eles não cessam, e já não consigo pensar com clareza. Me entrego aos sentidos, e deixo que eles me conduzam, mas não tem como não ouvir o desespero das almas perdidas neste recomeço de tudo.
Os gritos trazem medo, loucura, desespero, aflição, temor absurdo. Imagine de repente, você acordar de um pesadelo e descobrir que ele é a sua realidade agora. Não tem como acordar...
As vozes se intensificam à medida que caminho, e vem de todas as direções. Parecem me cercar, na esperança que eu tire-as de lá. Mas não é possível para mim, está muito além da minha missão. Meus cabelos que já estavam molhados pela tempestade, agora começam a me deixar gelado, pois o nevoeiro é muito frio. Frio a ponto de diminuir a minha marcha, mas não de me impedir. Sei que tudo é um teste, e sei que já passei por isso outras vezes, e venci.. Mas como não existem lembranças, a luta é sempre nova.
Quando já estou a ponto de enlouquecer com os gritos, e perder o controle dos sentidos que me guiam, eles começam a recuar. Já não estão tão perto. Passei pelo desfiladeiro das almas condenadas, de onde elas não podem sair. Aos poucos o silêncio vai retomando o lugar, o nevoeiro vai se esvaecendo e começo a enxergar algumas construções em ruínas à frente. Não reconheço nada ainda, nem tenho certeza do que vem agora, mas sinto que não ser fácil, pois o grau de nitidez da visão da alma tem que estar cada vez mais apurado para não ficar nos tormentos.
O nevoeiro se foi de vez, e vejo um campo desolado, chão de terra batida, provavelmente vítima de um incêndio, pois só há plantas queimadas. Longe, bem ao fundo, vejo uma sombra enorme, que me parece um templo, mas não sei ainda o que é. Preciso caminhar mais um tempo pra tentar me lembrar o próximo passo.
Sinto minha luz aumentar novamente, e minha alma brevemente se incendeia, e ilumina boa parte do caminho à minha frente. É que lembrei da minha eterna inspiração, que deve estar feliz em algum lugar por onde já passei, do outro lado do túnel, e a felicidade dela me fortalece. Queria te olhar novamente, ver o brilho dos seus olhos, o sorriso lindo nos seus lábios, mas já estou longe demais para ver. Só me resta agora as lembranças, e uma ligação que nunca vai se romper, mas que me faz sofrer muito ainda.
Já consigo ver a construção; é um templo em ruínas.
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