Poesia Gótica + linguagem moderna = Poesia Paralela
Poesias que fluem da alma, muitas vezes sem explicação, mas muitas vezes delimitando o caminho

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Em cima da caixa

Às vezes, meias palavras bastam; às vezes são necessárias frases inteiras e ainda rodapés nas páginas para que alguém consiga entender um sorriso. Sorriso desconfiado, triste, meio de lado, aquele que carrega em si toneladas de pesadelos que a vida pode trazer. Não que sejam todos já verdadeiros, mas muitos já se cumpriram e muitos tem chances enormes de se tornarem realidade. Mas será que ainda há algo que possa ser feito? Quando decidimos somente por nós mesmos, é mais fácil aceitarmos os erros, pois podemos nos xingar e nos crucificar. Mas quando decidimos porque alguém já decidiu e não acreditamos ter direito de estragarmos isso, ficamos presos em cima de uma caixa que não fomos nós que construímos. Apenas aceitamos ficar lá porque alguém preferiu assim. Será que é errado decidir ficar em cima da caixa porque é o sonho de alguém, e ela preferia que um pedaço da sua vida não existisse se você não estivesse lá em cima ? Sei o que deve estar parecendo; que estou querendo me colocar na condição de vítima, ou de infortunado pelo destino, mas não é assim que eu me sinto. O que fiz foi realmente porque acreditei ser o certo, para não mudar este sonho de alguém que dependia tanto de mim para se tornar realidade. Eu sonhava também com a caixa, mas não tinha me imaginado ainda em cima dela; são coisas totalmente diferentes, situações diferentes. Mas, e agora, que não existe mais o verbo “voltar atrás” escrito no livro da vida ? Seria o mesmo que voltar ao passado para mudar algo, e isto não existe. O que existe é a dor em ver seus pedaços passando por você, e não poder mais fazer nada, pois a caixa é tão alta que não me deixa tocar em nada. Apenas ajuda a aumentar a dor, porque aumenta minha visão e cada dia que passa enxergo mais, e mais nitidamente. Não me arrependo da caixa, apenas me arrependo de não ter questionado o tamanho dela, e nem onde eu ia ficar depois que estivesse pronta. Aquele sorriso antigo me faz falta; não o meu sorriso, mas o seu. Já faz tanto tempo que eu não o vejo mais, que só as lembranças nutrem a vida dele que ainda existe dentro de mim, e que eu insisto em não deixar morrer. Será que você sabe me dizer porque insisto tanto em manter vivo dentro de mim aquele teu sorriso ? Eu já te falei tantas vezes, que nem mais vou insistir em bater nesta tecla. Quem sabe um dia você entenda o que é a caixa, o que eu estou fazendo aqui em cima dela e porque estou aqui. Enquanto isto, continuo vendo os pedaços passarem, mas mesmo assim ainda enxergo teu brilho, mesmo sem saber de onde está vindo.