Por tuas terras eu caminho; já é noite, e só ouço risos pelos salões e o barulho dos cavalos nos estábulos. Vou caminhando pela noite, onde é mais difícil que seja visto, embora ser encontrado aqui não seria uma condenação, pois antes de ser morto, teria que passar por teu julgamento que já és certo, mas me daria a honra de por uma última vez ver-te em tua majestade, perante tua corte.
Mas a noite é sombria, turva e sinuosa, e esconde em cada esquina do vilarejo um degrau de fuga por onde tenho que atravessar, nunca entrando por ele. Este brilho da noite me encanta, e vejo na natureza os segredos que ficaram o dia todo escondidos da visão que só aceita a luz. As sombras se formam, e se esvaziam de conteúdo, de passagem, pois tudo e todos são rápidos aqui, em meio à escuridão; talvez tenham medo de teus guardas que estão por toda parte, em vigilância constante e rígida, afim de apreender tudo e todos que forem contra teu majestoso braço forte, com o qual diriges a felicidade de teu império.
Jamais poderia ter duvidado de tua sensatez; às vezes me esqueço que aqui, não existem formas alternativas de punição por deslealdade; a única forma de punição é a morte pelo fio da espada, em praça pública, sob o comando de tua mão e com teu consentimento.
Por um instante, esqueço tudo que fiz de errado e me volto para a noite. Agora estou parado aos pés da montanha que cerca teu reino, e observo a forma como as árvores balançam com o vento noturno, e a forma como o ar é frio e enigmático. Ele traz dúvidas, incertezas, e me desafia a entrar pela floresta em busca de algo desconhecido. Ainda trago em minha cintura minha espada, forjada pelo fogo, que ainda não me foi tirada pelos meus atos, e ela me protege e me dá força e coragem para prosseguir, fugindo, até quando eu não sei. Será que me adianta continuar fugindo de tua punição se meu destino está selado aqui, e a morte me espera em um canto qualquer, onde posso ser pego a qualquer momento ?
Não sei exatamente porque insisto em continuar aqui; seria tão mais simples fugir para outro reino, onde ninguém saiba quem sou ou o que fiz. Talvez até me tornasse novamente um cavaleiro da majestade, das tropas da realeza. Mas não é a mesma coisa; aqui, servi não apenas com gratidão, mas também por honra e por amor. Pelo amor de estar à teu serviço, minha rainha. Lembrar que um dia sonhei em ser teu rei, e poder beijar teus pés e reverenciar-te a cada instante da minha vida, a cada sopro de respiração de minha alma, e não apenas quando, por ocasião das revistas às tropas, passavas por mim e me davas a glória de contemplar tua beleza em toda tua magnitude, mesmo que sem tu perceberes. Claro, também tinha o mínimo de bom senso; se a guarda real soubesse que te admiro e que ostento por ti essa loucura eterna enlaçada por um amor sufocante, seria decapitado à primeira hora do primeiro dia.
O sereno da noite esfria meu corpo, e já estou tremendo; mas não importa, teu reino vai muito além das montanhas ao ocidente. Teu reino está em cada alma de teu povo, está em minha alma que não sabes viver se não for aqui, no solo onde pisas e próximo aos rios que fornecem as águas que tu bebes.
Caminho entre as casas de madeira, e outras de tijolos de barro, me esgueirando da cavalaria que continua à procura dos insolentes. Em cada sombra que vejo se formando à minha frente, vejo teu rosto de resplendor, e tua imagem se formando como um véu de outro reluzente. Serias uma santa, ou uma deusa?
Apenas minha rainha, que venero e insisto em adorar por toda minha vida, enquanto eu tiver ar para respirar e forças para lutar por teu perdão.
Uma vez teu cavaleiro, pra sempre honrarei teu sinal que está em meu sangue, que não temo em derramar pela defesa de teu nome; vida que não hesito em entregar para ouvir ter perdão, o que me daria o descanso dos heróis de batalha, o céu dos cavaleiros mais honrados de vossa majestade, minha rainha.
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