Não entendo muito bem porque insistes em comportar-se assim. Mesmo sabendo de toda conspiração contra ti, fazes questão de continuar todo o tempo na claridade dos castiçais, onde todos podem te ver todo o tempo. Isto não é bom. Estás muito exposta e assim coloca-se em risco há todo momento. Parece-me que realmente não tens certeza daquilo que me move, daquilo que tento te provar há tanto tempo que até a poeira do destino não consegue mais apagar. Porque insistes em descrer-me totalmente? O que mais preciso fazer para que venhas a crer em meus sentimentos mais nobres e honrosos para com ti?
Como dama das minhas noites sem fim, por onde ando sempre em linha reta de olhos fechados, mas acima de tudo como rainha de meu império, jamais te desrespeitaria perante tua corte, embora esta corte não mereça nem um décimo de meus préstimos. Mas mesmo assim, respeito-te acima de tudo, pois és e sempre serás a rainha dos meus caminhos. Aquela que emite brilho onde não existe um só reflexo nem um sequer raio de luz, onde a escuridão sempre prevalece; aquela que tem o cetro de comando da minha alma, pela qual não temo a espada nem o escudo de meus inimigos pois minha alma fica mais forte a cada dia que passa, e com ela posso vencê-los todos com apenas um gesto; aquela que segura em minhas mãos mesmo sem querer pois meu pensamento vai muito além de tua imaginação, e consigo sentir-te tão próxima que posso tocar teu rosto, embora jamais me atreveria a fazer. Tuas mãos me bastam; um beijo que deixar-me dá-las és suficiente para que nunca mais esqueça o segundo em que tive a ousadia de olhar teu rosto quando nenhum dos teus soldados tinham. Eles apenas a respeitavam; eu fui além, eu passei a admirar-te e sentir uma necessidade sem fim de proteger-te a qualquer custo. Minha vida é um prêmio muito baixo pelo que posso fazer por ti; gostaria de poder oferecer-te mais, mas tudo que tenho hoje, além de minha alma que já é tua, é minha espada sagrada, que tu mesmo a forjastes com o fogo sagrado de teus olhos e que, seguramente, a devolverei a ti quando tiver certeza de que não corres mais perigo.
Preciso de tua confiança, uma vez mais, embora saiba que não mereço. Minha ousadia me custou o exílio de teu reino, e aproximar-me de ti se tornou uma missão hoje. Todos estão à minha procura, quando na verdade, tua corte e tua guarda real é que planejam contra ti. Provar, nunca conseguirei antes que derrubem-te, mas isto não deixarei que aconteça, pois poderia ser tua morte. Se morreres, irei junto, pois os corredores de silêncio e escuridão da morte eu já conheço como minha casa, e irei contigo até as portas do julgamento final, mesmo sabendo que os céus te aguardam enquanto que, a mim, só resta um último suplício de perdão como chance de não permanecer eternamente nos infernos ou vagando por esta terra deserta.
Não fiques tão longe das sombras; aproxime-se pelo menos um pouco, para que eu te veja e alcance quem estiver próximo de ti; somente assim derrubarei tua guarda infiel, homem por homem, e eliminarei tua corte que te presta homenagens agora, mas planeja tua queda logo após. Não merecem a vida; na verdade, não merecem nem ir tão rápido para o inferno, pois a lâmina de minha espada é rápida demais. Deveriam sofrer mais pelo desrespeito e pela audácia de conspirarem contra ti.
Dama, linda e maravilhosa dama da minha existência, deixe-me que envie-os para os corredores da morte sem que nenhum guia venha buscá-los, pois assim vagarão muito tempo entre as portas do sofrimento e da tortura, para assim saberem o quanto erraram em escolher o lado dos traidores. Deles, não tenho piedade, pois esse dom não compete a mim, e sim aos Deuses da Guerra, que os julgarão ao final dos corredores.
Não era isto que queria ser em tua vida; ser um anjo negro que se move pelas sombras, e pela escuridão consegue se aproximar de ti apenas o suficiente pra sentir teu perfume. Gostaria de ainda ser aquele cavaleiro que defendeu tua honra tantas vezes em campo de batalha, e tantas vezes voltou ferido, e gravemente, mas que honrava cada gota de sangue que caia pelos meus braços e sumia pelo chão, onde brotava as plantas irrigadas pelo sangue dos guerreiros.
Mas o tempo passou, e eu fiz coisas que não deveria, por ordem do meu coração, ignorando a razão, e até mesmo os níveis que nos separam. Me apaixonar por ti já foi uma transgressão, mas que levarei comigo até onde eu for, e jamais renegarei o que fiz e o que sinto por ti. No entanto, o castigo me veio a trotes largos e profundos; alguns me chamam de bruxo, as vezes, ou de anjo do demônio, mas são apenas homens sem fé e que desconhecem tudo que sei, que fui, e que sou principalmente. Carrego comigo muitas coisas que trouxe dos porões dos aflitos, quando estive atravessando o inferno em busca da espada sagrada que me destes mas tive a incompetência de perdê-la em um duelo inútil. Mas isto hoje, dentro da minha limitação, me é de grande valia, pois são as sombras que me guiam, e é pela escuridão que ando, e ela me protege e me ensina a cada dia um pouco dos segredos da noite sem fim.
Com isso, sempre estarei dentro da tua vida, pois, lá no fundo da tua alma, há uma escuridão que tu não entendes ainda, mas que pode servir para me abrigar. Ninguém há de ferir-me, ou ferir a ti, enquanto eu estiver na escuridão da tua alma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário