Poesia Gótica + linguagem moderna = Poesia Paralela
Poesias que fluem da alma, muitas vezes sem explicação, mas muitas vezes delimitando o caminho

terça-feira, 5 de julho de 2011

A sombra da rainha

Tu achas realmente que a distância mudará o que sinto por ti? Que, com o tempo vou esquecer e com isso provarás que sou apenas mais um “superficial” ?
Te enganas; a distância há muito tempo se tornou minha aliada. Aliás, quase tudo o que as pessoas tem medo, eu tenho a meu lado, me acompanhando em cada passo, e elas me ensinam tudo que preciso para te esperar por toda a eternidade, ou ir te buscar em qualquer lugar que esteja.
És rainha eterna da minha existência, por mais sombria e pálida que seja; meus domínios são teus e te sirvo meus dons em uma bandeja petrificada em ouro, em sacrifício por contemplar teu rosto de linhas escuras e reflexo sombrio. Um eterno cavaleiro errante pelas terras áridas, escuras e tortuosas que levam à teu reinado; és assim, que caminho e caminharei eternamente até o dia em que conseguirei chegar até os portões de teu templo, castelo mitológico de enigmas, cuja chave já és minha mas que não consigo decifrar ainda.
Seres tão fracos que somos, mas que, quando amam com a alma, se tornam as pedras mais duras desta noite no deserto. Meus olhos também se escurecem, e o verde já não é mais nítido; agora estão totalmente pretos, sem divisões. São como infinitos buracos negros no espaço, eternos poços sem fundo por onde as almas podem passar sem nada tocar, e ir de uma realidade à outra em segundos. Dons são coisas difíceis de controlar, mas aqui se pede, aqui se recebe. Meu preço não é baixo, mas tu vales cada moeda que tiver em meus bolsos, e cada pedaço da minha alma que te ofereço para que eu esteja em ti, e tu estejas em mim para sempre.
Acredito que nunca irás reconhecer isto, pois está além desta vida, e quando se lembrar, não terá mais recordações de agora; a mente é escura, e assim as lembranças também se tornam negras de uma vida para outra.
Sinto as vezes, que, mesmo em tua majestade, tem apreensão com minha aproximação. Tu és a rainha aqui, neste domínio, e nada nem ninguém deves temer. Tens um exército que te guarda, mesmo sem que tu percebas. Teus anjos alados estão por toda parte, e não deixam que nenhuma corrosão se aproxime de ti.
Honres tua coroa e teu cetro de diamante como sempre fizestes, e coloque-se em teu trono por detrás dos portões em teu castelo, templo de tua eterna e encantadora beleza, que paralisa até os mais bravos guerreiros que tentam chegar até a ti. Somente ousei chegar tão perto, pois a noite me esconde, as sombras me protegem, e o frio está no sangue que corre pelas minhas veias. Vejo a luz onde só há escuridão, sinto o calor onde ele não existe, vejo a paz no meio das guerras, vejo a vida em um coração transpassado por uma flecha em batalha, vejo teu sorriso mesmo na seriedade de tua serenidade.
Voz que ecoa sem emitir som, beijo que eu sinto sem te tocar, mãos que toco mesmo estando tão longe de mim, doce encanto que me fascina mesmo sem olhar pra mim. Como descrever algo que me transforma sem que eu mesmo possa entender direito... É tua alma, que fala com a minha, que me diz teus segredos mais secretos e que confia em mim pois as almas não conseguem se confundir, elas se revelam totalmente umas para as outras. Tua alma me vê, mas tu ainda não. Mas o tempo chegará, no devido tempo.
Enquanto espero, levo comigo o vento gelado das tempestades de inverno, o som apavorante da floresta que nunca foi explorada à noite, o repouso dos desenganados que já jazem em abrigo eterno com uma cruz fincada a seus pés, o olhar frio e envolvente de tua alma, e a ensandecida vontade de roubar-lhe um beijo, mesmo que me custe uma lança fincada nas costas, postada por teus anjos que jamais deixam que cheguem tão perto de ti.
Só alcancei teu domínio, porque sou a própria sombra. Nela caminho e nela tenho abrigo e proteção, e principalmente, porque tu deixastes.

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