Poesia Gótica + linguagem moderna = Poesia Paralela
Poesias que fluem da alma, muitas vezes sem explicação, mas muitas vezes delimitando o caminho

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O deserto das almas

Caminho lentamente, já com os pés adormecidos e a pele queimada pelo sol que arde pelo céu, num dia que parece eterno, onde me arrasto pelas areias sem fim deste deserto. É estranho para mim, que sempre estive pelas sombras, mas este sol que brilha e queima aqui não é o mesmo que estava lá antes, quando eu não podia enfrentá-lo; este sol é artificial, e faz coisas que normalmente não acontecem.
Aqui eu posso, e não tenho escolhas; tenho que me expor ao sol e à luz, mas ele não é tão limpo, inocente e implacável como o normal. Aqui ele queima minha pele em segundos, como exposto numa fornalha à lenha que é abastecida com madeira nobre todo o tempo, sem interrupção. Isto dói muito, mas arranca de mim tudo o que carrego e traz à tona toda minha inquietação e todas as minhas dúvidas, tudo que fiz ou deixei de fazer, tudo aquilo que construiu meu karma.
Meus sentimentos fluem pelas minhas veias, e se expõem neste calor insuportável, e meu corpo arde em brasa da mesma forma que minha alma se incendeia, e me sinto parte do próprio fogo; é como um retorno as raízes. Batizado pelo fogo, reenviado ao fogo novamente. Este deserto é um campo sem fim, e quanto mais ando, mais leve me sinto, mas ao mesmo tempo mais consumido me sinto também; vou ficando fraco e, por vezes, caio de joelhos sobre as areias escaldantes desta planície ardente.
Labaredas cortam os céus, como se fossem raios, e ateiam fogo em tudo o que atingem, e delas vou me esgueirando, apesar de já estar em estado de fogo puro também. O mormaço que sobe das areias exalam um odor forte e muito difícil de respirar, o que vai me deixando mais dormente; é como respirar gás paralisante. Aos poucos vou perdendo parte dos sentidos e da orientação, e caminho em parte sem senso de onde estou indo. Na verdade, desde o começo não sei exatamente para que lado ir; tudo aqui é muito relativo, e a vontade faz o caminho. Mas minha vontade ainda está atrelada ao mundo real que deixei para trás, e teu semblante, minha eterna dama da noite sem fim, não sai da minha mente; teu olhar sereno e tua classe de comportamento continuam me enfeitiçando, e jamais vou conseguir te esquecer. És, e sempre serás a eterna dama da minha vida, minha inspiração dos olhos cor de mel, e vou continuar esta peregrinação por este deserto infindável, onde as almas se perdem e ficam sem direção, enquanto tu quiseres. Daqui só sairei quando chegar o tempo certo, onde tu, em tua imensa sabedoria e intuição, me descobrires e entenderes o quanto te amo e sentires o mesmo por mim.
Não me importo mais em estar nesta condição de tortura e sofrimento extremos, pois somos todos capazes de suportar tudo, mas tudo mesmo, pelo verdadeiro amor de nossas vidas; não existe castigo ou dor que seja capaz de nos fazer recuar em nossas atitudes e nossos sonhos se amamos verdadeiramente, se encontramos nossa outra parte.
E por ti, minha dama, continuarei aqui, tirando forças das areias e das almas que jazem aqui eternamente, para não cair nem perder para sempre a consciência do que sou e do que estou esperando. Muitas almas se perdem aqui, pois entram sem a certeza do que encontraram, e quando descobrem que foi apenas ilusão, ficam trancados aqui por todo o sempre. É uma prisão astral, de onde saem apenas as almas que evoluírem a ponto de reconhecer que a vida não é nada sem a morte, que o sonho não é nada sem a desilusão, que os acertos nada são sem os erros, que as paixões nada são sem um amor de verdade.
Tudo é uma controvérsia, e de lados opostos se contrabalanceiam para que a existência esteja sempre em movimento, senão tudo estaria condenado ao estado estático para sempre.
Sei que tudo aqui é meio confuso agora, ou mais uma vez, mas para mim a explicação está em cada pergunta, as respostas estão embutidas nos enigmas, e são tangíveis para quem estiver com os olhos da alma abertos. Graças à teu sorriso maravilhoso e teu olhar lindo como o ouro reluzente, não perco mais a direção nem o sentido da minha vida, pois agora vivo dentro da morte, pois ela não tem mais enigmas para mim.
As almas perdidas passam a meu lado todo o tempo, enquanto caminho arrastando os pés pelas areias ferventes, e minha alma vai deixando um rastro escuro por onde passo, enquanto te espero, dia após dia, ano após ano, pois aqui tempo não existe, até que te reencontre novamente, e não cometa mais os erros que cometi.

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