A vida em si, é algo que sempre se recompõe. Ela nasce, se desenvolve, tem sua fase de transição e estabilidade, e por fim morre; mas sempre se recompõe de alguma forma.
E por mais incrível que pareça, a situação de recomposição e transição de uma vida nunca acontece de uma forma bela, linda ou majestosa. A vida está sempre envolvida num invólucro sombrio, úmido e cheio de mistérios. Se for analisar a própria metamorfose de uma lagarta, pode-se notar que, para se tornar uma borboleta e parar de se rastejar pelos campos, ela precisa se fechar em seu túmulo, e lá permanecer escondida, até que a fase esteja completa. Se o casulo for rompido antes do tempo, é que se vê a imagem grotesca e obtusa que a criatura está, pois o processo não está completo.
Tudo prova que, para o renascimento e o retorno à vida, para que aconteça, necessita dessa fase de transformação, ou seja, é necessário esse meio sombrio para que o ciclo nunca pare.
Existe vida nas sombras, na escuridão, e onde existe vida, existe poder. Poder de transformar e evoluir. Esta fase, pode ser desde um segundo até uma vida toda; as pessoas precisam de uma relação de tempo pessoal para isso, o que varia totalmente entre elas.
Esta vida na escuridão, não é necessariamente uma escolha, é uma linha que o destino traz e da qual não se foge; é preciso viver dentro dela. Sobreviver. Não é tão difícil assim se adaptar para ela, até mesmo porque muitas vezes já nascemos assim, fechados, escondidos do mundo, e mesmo andando pelas sombras atingimos os mesmos lugares que quem já está ao sol consegue. Só que não somos notados. Passamos despercebidos com a maior facilidade. Acredito que o escuro ajude nessas horas, afinal, bem poucas pessoas estão preparadas para enxergar nesse lugar. Normalmente, somente aqueles que já andaram ao lado dos cavaleiros da morte conhecem os truques do silêncio e da ausência de luz. Nesta arte, não somos principiantes; somos os donos do silêncio e da falta de brilho nos olhos, por isso o sol é tão difícil de enxergar. Cada um reina em sua casa, e nada além disto, e nossa casa é nas sombras, qualquer uma, e lá criamos nosso destino e nosso objetivo na vida.
De repente, você pode gostar da idéia de ser gótico, ou dark, mas se realmente não sabe o que isso significa para sua vida, você apenas está usando um rótulo falso. Você quer, mas por algum motivo não consegue. E assim vai ser pra sempre; aqueles que são predestinados a passar pelas sombras, não tem como fugir dela, mas aqueles que nasceram para ser parte do sol, somente não o serão se não quiserem, pois nas sombras eles não conseguem ficar mais.
Aqui tem algo que não pertence aos iluminados, e que eles não precisam mais para sua elevação; o conhecimento das artes mais sombrias que reinam nos porões da insanidade de uma mente corroída; um inferno pessoal. Passar pelos infernos não é o problema; problema é decidir ficar por lá. Assim como eu, você pode passar e sair, e ainda pegar todo o conhecimento que couber em suas mãos. Da verdadeira escuridão, nem a luz escapa, pois ela não encontra onde refletir, já que tudo é absorvido.
Talvez isto até mesmo ajude a entender coisas mais “tangíveis”, como os próprios buracos negros no Universo; nada que estiver em seu caminho escapa, nem mesmo a luz. Isto provado cientificamente.
Isto significa que é ruim ?
Claro que não. Como se pode dizer que algo é ruim quando não se sabe o que ali, naquele determinado momento, é realmente bom ?
É necessário ter o conhecimento de ambos os lados, para que se possa decidir.
Sentir, em todos os níveis, a inconsciência tomando conta do seu mundo, as coisas fugindo do seu controle, dominando tudo sozinho, sem precisar de ti.
Perder o controle sobre as coisas muitas vezes nos deixa sem rumo, a devaneios completos, mas são coisas necessárias para o aprendizado.
Quantas e quantas vezes passamos a vida juntando algumas pedras na mão, achando que elas sempre resolverão tudo pra gente, e de repente, descobrimos uma pedra sagrada, e temos que jogar tudo para o alto para poder segurá-la. Resultado, perdemos as pedras que não tinham sentido, mas eram nossas, e também não conseguimos segurar a pedra sagrada, pois ela brilha tanto que não se pode chegar tão perto dela nesta escuridão.
Perder as coisas, já é hábito para nós, senhores das sombras. Mas só conseguimos encontrá-las novamente se elas estiverem no escuro, ou quando decidirmos que já é hora de sair deste vale de morte, e lutarmos pela vida, e não para fugir da condenação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário