Poesia Gótica + linguagem moderna = Poesia Paralela
Poesias que fluem da alma, muitas vezes sem explicação, mas muitas vezes delimitando o caminho

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Lágrimas de sangue

Sinto o frio de mais uma noite que cai, enquanto ando firme e lealmente rumo ao meu destino, que me aguarda no fio de alguma espada que com certeza acabará me atravessando em algum momento desta noite sem fim. Sei que cedo ou tarde, consiga eu ou não derrubar todos os inimigos de tua coroa, em alguma situação alguém irá cumprir o ritual da minha vida, me enviando para o eterno corredor da condenação onde vagarei até que outra oportunidade me seja dada para recomeçar.
Mesmo sabendo que o preço por estar lutando por teu amor és a minha morte, o medo não existe em meu coração, pois tu vales cada gota de suor e cada lágrima de sangue que eu derramar em tua defesa, pela honra que me destes por deixar-me te amar, mesmo sendo para ti apenas um cavaleiro errante, que teve apenas uma única oportunidade de ser leal ao teu julgamento, e te decepcionei, lutando por valores que não tinham sentido nem real importância em minha vida. Usei teu conhecimento sagrado por futilidades.
Me arrependo sim, mas apenas as intenções não são mais suficientes para que me perdoes, e por isto fui condenado a me cobrir de sombras, e a nunca mais ver a luz do sol, já que a única forma para que eu aprendesse a dar valor àquilo que realmente merece, era me privar deles.
Aqui estou, preso e vivendo na escuridão, mas vivo. Vivo, e te servindo das formas que consigo, pois minha lealdade a ti em nada se abala mesmo estando as voltas com a luta por teu reino, onde tudo pode se perder, assim como tudo pode se ganhar.
Apenas uma chance, e nada mais. É só isso que preciso para que complete minha missão como teu guardião; não importa as armas que usarei ou como usarei, apenas preciso te manter a salvo. O cumprimento de teu reinado é fundamental para teu povo, e a prosperidade está em tuas mãos.
É como se o tempo tivesse parado agora; esse caminho que sigo pela noite, através da floresta ao redor das casas, parece que não tem fim. Onde estás teu castelo, minha adorada dama? O construíste no mais íngreme dos penhascos do reino, onde somente se chega passando pela tua real guarda. Claro que não é assim que passarei; eles, que estão do lado de fora, não tem culpa do que acontece do lado de dentro. Apenas passarei sem que me notem; pra mim não ser notado é simples, já é de minha própria natureza.; é algo que já se incorporou em mim, e as sombras sem fim da noite me acobertam.
Minha alma já queimou tanto de amor por ti, que agora ela se encobre de gelo e me deixa totalmente congelado em meus sentidos, e somente meus sentimentos me guiam, também gelados, só que de, tão gelados, chega a queimar meu peito e atravessar minha armadura.
O frio eterno de uma noite que eu sei que não terá fim, ao mesmo tempo me desafia e me adverte; ter a coragem de enfrentar meu maior inimigo, mas jamais me esquecer do motivo que me leva a isto. Meu maior inimigo é aceitar meu karma, e esse sim é pesado. Mas nada é tão pesado que não possa ser carregado. Antes do tempo, eu não aceitava que não iria ter seu perdão; hoje, acredito nele, mas aceito que da mesma forma posso nunca ter. Isso sim é difícil. Conviver o tempo todo amando alguém que está tão longe de mim, que as muralhas de teu castelo nem mesmo deixam que tu me vejas como eu realmente sou. Tu me vês como a maioria das pessoas da corte; aquele cavaleiro que desobedeceu a rainha e teve como castigo a desfiguração da imagem refletida.
Para ti, sou um monstro, algo que vive e se alimenta da escuridão, dos medos e das dúvidas, apenas levo preocupações e desavenças e espalho as inquietações por onde passo. Mas não é isso realmente que eu sou.
A vida me fez frio e duro como uma rocha de gelo, mas que tem uma alma se incendiando por dentro o tempo todo. Tu me vês desfigurado pois tua alma ainda está fechada demais para que vejas através da névoa que me segue, e enxergues através das sombras. Lá estou, com minhas asas ainda calejadas de tantas perseguições que sofri e de tantas quedas que tive, mas ainda consigo voar até a luz dos teus olhos. As sombras podem parecer que não tem vida, mas através delas é que se distingue o teórico do real.
Somente saberás que algo está na luz, se souberes como são as sombras, e somente saberá quem está nas trevas se já estiveres na luz. E isto tu já estás, há muito tempo.
Puxo meu capuz, e sigo, como um monge com a túnica preta rasgada pelos arbustos. Até quando, não sei. Até onde, com certeza sei. Até teu castelo, esperando que até lá, tu já tenhas aberto as portas dele para mim, para que mais uma vez eu não seja obrigado a entrar pelas sombras para poder ficar apenas te olhando...

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