O show acabou; as cortinas se fecharam e o espetáculo da vida movida por um amor, se encerrou. Pelo menos é a imagem que vai ficar; como toda peça que termina, se há um final triste, será para sempre.
Não houve aplausos, nem palmas, nem gritos. Apenas silêncio. Absoluto e total silêncio na platéia.
Talvez não fosse este o final que estavam esperando, na verdade, nem eu mesmo estava esperando que fosse assim, mas como todo bom espetáculo, os capítulos não são revelados antes da filmagem, para que nada escape do roteiro escrito pelo destino.
O destino escreve sua peças com uma caneta muito pesada, que marca as páginas de nossas vidas, e não tem como apagar para tentar reescrever; sempre ficarão marcas do que já foi escrito, e feito.
É difícil entender, e explicar também, mas o abismo que se formou à minha frente é muito maior do que eu esperava; não tem como fazer de conta que ele não existe e pular por cima, e eu ainda não aprendi a caminhar pelas nuvens.
O mundo segue seu ritmo, sem paradas nem inércia, para que possamos pensar em tudo o que aconteceu e em tudo que fizemos. Se ficamos parados, o futuro nos esmaga e ficamos largados pelo chão, se corremos em seu próprio ritmo, acabamos por tomar decisões erradas e em fluxo descontínuo até o ponto em que perdemos totalmente o controle daquilo que somos ou fazemos.
Uma parte de mim está sendo retirada, e é claro que isto é doloroso e não vai ser fácil superar e aceitar que não terei algo que nunca tive.
Meus instintos aceitam a realidade, mas minha alma não. É uma situação tão retrógrada que acaba gerando sua própria fermentação pela estática em que se encontra, e como tudo fermentado, se não for feito um desfecho em tempo certo, se perde todo o conteúdo. E o tempo chegou, e tu farás uso daquilo que há anos está elaborando dentro de ti.
Mesmo sabendo que, por um tempo ao menos, tu ainda irás se lembrar de mim, sei que no futuro serei apenas uma lembrança chata que vez ou outra passará pela sua mente, como um sussurro “que maluco aquele cara... nada a ver “. Mas eu não sairei daqui; aqui as minhas palavras dominam, e aqui elas tem liberdade para se expressar, e aqui permanecerei por todo o sempre. Ou enquanto não me jogarem para fora.
Nem tudo depende de mim... ainda bem, senão, com minha enorme imperfeição imagine só como seriam as coisas... Ridículo.
Acredito na reação da platéia, acredito no silêncio que domina agora o palco, onde ando de um lado para o outro enquanto todos vão embora, inclusive você, protagonista principal desta peça. Todos tem para onde ir agora, mas eu não, pois neste palco construí esta peça, coloquei nela toda minha vida e toda minha inspiração, e, sem você, não existe mais o que apresentar. O diretor me cobra o porque deste desfecho, o porque da reação da platéia ( ou melhor, da não reação ), e principalmente, como consegui perder a estrela da peça. E minha resposta é a mesma para as três perguntas: não sei.
Perdi a essência da apresentação na metade do percurso, e acabei gerando novas linhas no roteiro e a peça mudou de sentido, de direção, e o final se antecipou e surpreendeu o diretor, que agora me cobra o que eu fiz, ou deixei de fazer. É difícil admitir, mas sei que o erro foi somente meu; quando era para acreditar, fui incrédulo, e quando tudo foi brincadeira, acreditei como se minha vida dependesse disto.
O resultado, foi que hoje estamos no fim, no último degrau da escada descendente, e abaixo disto só existe o que há debaixo do palco; nada. Apenas a estrutura de algo que não conseguiu se materializar. Ou seja, a estrutura é ruim. É aqui que vou ficar trabalhando pelos próximos tantos anos, que não sei quantos, preparando novamente a estrutura, para que, quando chegar a hora em que novamente será apresentada aqui a peça da minha vida, eu realmente esteja pronto para seguir o roteiro, sem interferir.
De ti, dama da minha vida, minha eterna inspiração dos olhos cor de mel, me despeço com o coração partido, e as mãos lavadas em lágrimas, que já não sei a quanto tempo estão aí. Sei que um dia voltarás, e até lá, me alimentarei dos sonhos que tive, e que nunca existiram.
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