Da rosa mais linda do jardim retirei apenas os espinhos; das plantas carnívoras da floresta retirei apenas o mecanismo predador; dos animais sombrios que insistem em continuar te seguindo arranquei apenas os dentes; de meu violão parcialmente desafinado extrai uma música; da rouquidão e da voz quase sumida em meio a tanto barulho, retirei apenas um último grito de despedida.
Tentei te ouvir tantas vezes; tentei me fazer de amigo tantas vezes, tentei estar ao teu lado tantas vezes. Por tantas vezes quis ser teu anel, para envolver teus dedos e estar sempre segurando tua mão; noite após noite sonhei com teu amor que nunca existiu, e me afoguei no mar dos teus olhos que brilham mais a cada dia que passa. Estive tão perto de ti, mas ao mesmo tempo sempre estive tão longe, que hoje não me restam mais muitas perguntas e nem tenho mais tantas respostas como um dia já tive. Sei o que acabou de acontecer, aliás, eu já sabia há muito tempo como e o que iria vir a seguir.
Choro, sem arrependimento por nenhuma das lágrimas que cobrem meu rosto, pois cada uma delas é uma reverência ao teu magnetismo e à tua majestade, que reina e sempre reinará em meu mundo sombrio e turvo. Não quero que a última lembrança que tenha de mim seja assim, chorando, mas não sei se esta será a última poesia que te escrevo; esforçarei-me para que não seja, pois hoje amanheci sentindo um vazio tão grande em minha alma, e um peso tão grande de um karma em minhas costas, que custo a acreditar que deixei-te escapar por entre meus dedos novamente, como se isso não tivesse a menor importância para mim.
Afinal, do que me serviu contos de fadas, histórias medievais, enfrentar meus demônios todos os dias em cada segundo que se passava, horas em frente a um teclado aprimorando meus dons em dizer a verdade sobre minha alma, se, em apenas uma palavra, derrubastes tudo? Aliás não foi uma palavra, foi a ausência de uma palavra. Tens usado o silêncio como a arma mais poderosa contra tudo o que sinto, pois o silêncio nada comprova, apenas delimita uma condição que não nos é favorável e que queremos que seja mudada o quanto antes.
Aquilo que o destino traça, com seu compasso que rasga nossas vidas se ousamos ficar em seu caminho, ninguém mais consegue mudar, e eu atravessei esse caminho para te ver mais de perto, e minha vida se rasgou por completo, e só sobrou retalhos de uma realidade que tende a ser meu futuro. Quando uma coisa não deve existir, e nós insistimos em criar, se não retrocedemos, ele mesmo se encarrega de nos afastar disto.
Agora, não restam mais alternativas de caminhos, nem de atitudes. O destino se cumpre, e eu caminho pelo deserto sem fim deste inferno pessoal que criei, seguido pelos fantasmas que trouxe de meu passado, e que levarei para meu futuro.
Sei que não sou digno de nem mais um sorriso teu, pois afinal, as coisas que escrevo já não tem importância em tua vida, pois de nada elas te servem. Por isto, hoje, transcrevo para o papel toda minha dor por te perder, por não saber mais onde estás ou o que estás fazendo, por não saber mais se estás feliz ou não. Dói, e muito, e desta dor é que brota minhas lágrimas sentidas, desferidas de meu peito.
Acredito que não exista nada mais que poderia me machucar mais do que este adeus, sendo ele um ponto final em uma história que nunca aconteceu; portanto não existem parágrafos, nem espaços, nem sublinhado. Apenas não começou, porque não era para acontecer. Eu acreditei em meu sonho mais lindo, tirei os pés do chão, e vivi com toda intensidade meus sentimentos; mas, agora que meu chão é tirado, entendo que nunca deveria ter me aproximado tanto de você, pois a única coisa que fiz por ti foi colocar em tua mente dúvidas e histórias muito difíceis de acreditar. Não era isto que eu queria para ti; só queria que fosses feliz todos os dias, e que eu pudesse te ajudar nisto.
Mas nem isto fui capaz de fazer. Fui apenas uma pedra em teu caminho. Mudaste a direção, e a pedra deixou de existir.
Assim como surgi em tua vida, a deixo com a esperança que não leves contigo a mágoa e a descrença que te causei, pois uma das coisas que jamais poderias fazer é deixar de acreditar no verdadeiro amor, mesmo não sendo eu.
O meu casulo se abre novamente, e me recolho para meu túmulo frio e úmido, repleto de fantasmas e lembranças doentias, coisas que não consegui fazer evoluir juntamente comigo.
Tudo tem um preço; e o preço por ter acelerado o tempo, é nunca mais te ver nem ter notícias tuas, e viver eternamente de lembranças do que não existiu.
Pago, hoje com lágrimas. Amanhã, talvez minha vida, para que você viva a tua.
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