Poesia Gótica + linguagem moderna = Poesia Paralela
Poesias que fluem da alma, muitas vezes sem explicação, mas muitas vezes delimitando o caminho

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

As últimas vozes

O som da incapacidade; meus ensaios de antigamente. Dentro do palco, eu apresento o fim.
A mim mesmo dedico estas palavras, pois eu acho que tudo acabará amanhã.
E minha alma está impaciente; para se preparar para este ato final, ela treme.
As vozes que vem de dentro dos tubos, minhas reflexões do futuro, as últimas vozes.
Os ecos das atitudes que não tomei e o medo da realidade que não vivi percorrem minha mente, o tempo todo, todo o tempo, e fico assim, aficcionado na mesma idéia de concepção.
Vejo guerras que começam, vejo mortes que se lançam sobre tantas pessoas, vejo a dor de tantas almas perdidas nos corredores sem fim das lamentações. Vejo demais, e este agora é o problema. Não sei se quero mais isto para mim.
Mas não tenho mais escolha.
Rastros encontrados na floresta; tentando buscar uma última esperança que resta. Fugir, escapar de quem a persegue, pois ele é impiedoso e cruel, e não terá clemência diante de ninguém. Erga teu rosto, trace sua direção, e siga, enquanto os rios ainda não invadiram suas terras, que em breve não serão mais tuas, pois as águas tudo levarão, deixando apenas as lembranças do que um dia não aconteceu.
Não segures em tua mão mais do que aquilo que realmente precisas; não leves contigo bagagem que se tornam apenas peso, pois não terão real utilidade. A vida e a morte são para serem vividas em sua totalidade e apenas com aquilo que precisamos, nada mais além disto. Levar consigo coisas que não nos fazem felizes, nos manterão presos à algo que nunca existiu, a não ser na mente insana de alguém inconseqüente e que sente prazer em viver em seu próprio inferno astral. Inferno este, que ele alimenta com as madeiras de sua vida, com a própria experiência que ele adquire dia após dia, como se isto fosse levar a algum lugar.
A provação está perto do fim, e sinto o vento gelado da distância e principalmente do silêncio se aproximando a passos largos, e aqui se instalará permanentemente, criando uma atmosfera fria, mas realista. Ao menos assim poderei viver sem sonhar, afinal, do que me serviram os sonhos até hoje ?
Quando tive oportunidades, deixei meus sonhos pela metade; quando raramente eles se completavam, tive medo de vivê-los. Não mereço outra realidade a não ser esta paralela que criei, e vivo nela, pois para um desajustado existe uma realidade desajustada também.
Sinto o vento da impunidade me empurrando, como se eu não tivesse culpa; mas todo predador tem culpa, assim como toda presa também. Do mesmo modo toda presa é um predador e todo predador é uma presa, então, onde há um deles, há culpa. Só a impunidade resta, pois é a forma que a vida encontrou para justificar tudo.
Não tenho nada para justificar para ninguém, pois coloquei toda minha vida em tuas mãos, na hora errada e no local errado. Existem coisas que só acontecem uma vez na vida; talvez agora, só na morte.
O tubo entre a vida e a morte é um dualismo; se você atravessa, tem um mundo. Se você fica, tem outro. Mas se você ficar no meio, vê os dois, mas não toca em nenhum. É um privilégio ver o que ninguém mais vê, mas também é um castigo não poder tocar em teus cabelos nunca.
Palavras que se perdem, pensamentos vazios de significado, transição entre o real e o ilusório ( ou o contrário ). As idéias mudam, mas as maquetes não. Você coloca suas coisas para viverem de outro modo, mas não percebe que a maquete é a mesma; só mudaram as referências. De qualquer forma, você continuará batendo o tempo todo contra os mesmos pilares e as mesmas paredes, e não vai perceber isto.
Isto deveria esclarecer a direção, mas percebo que no fim do caminho não existe resposta, apenas outra pergunta. O caminho não tem um fim, mas apenas fases para percorrer; nunca ocorrerá o estático completo, nem mesmo se existisse um “fim”.
Algumas passagens são simples, fáceis, outras são difíceis, dolorosas, mas todas são passíveis de percorrer e levam ao mesmo lugar: outra pergunta, e outro caminho.
Movimento sem volta, sem parada, sem nada que te prenda a qualquer coisa. Qualquer ligação que você faça, será desfeita pelo caminho; pode não ser hoje, mas pode ser amanhã, depois de amanhã, no próximo ano, mas um dia chegará o momento.
Minha mente roda, as vertigens aumentam, e as vozes aos poucos vão sumindo, caindo num poço sem fundo de onde nem os ecos saem.
Talvez haja algo depois que elas passarem; talvez não. Talvez seja apenas a chegada do silêncio novamente. Meu velho amigo, o silêncio.

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