Poesia Gótica + linguagem moderna = Poesia Paralela
Poesias que fluem da alma, muitas vezes sem explicação, mas muitas vezes delimitando o caminho
Poesias que fluem da alma, muitas vezes sem explicação, mas muitas vezes delimitando o caminho
terça-feira, 18 de outubro de 2011
As mãos de um cavaleiro das sombras
Neste momento, sinto as lágrimas caírem por minhas mãos, escorrendo pelo meu rosto, rolando pelos meus braços até minhas mãos, já cheias de calos por estar a tanto tempo com este escudo e esta lança nas mãos, segurando-as com se fosse minha própria vida.
Não há muito mais o que se fazer agora; já começa a amanhecer e a chuva que cai em meio a floresta molha meu rosto e se mistura às minhas lágrimas, que a cada uma que cai é como um prego fincado em meu coração. Frustração, sensação de derrota eminente, fracasso. A guarda real venceu, mas falhou. Assim como eu venci, mas falhei.
Derrotamos todos os inimigos, e o que vejo agora são apenas restos das cabanas que pegaram fogo e ainda soltam um pouco de fumaça em meio a chuva, e corpos espalhados por todos os lados. Esta é a vitória; vingamos o rapto de nossa princesa.
Mas a derrota pesa mais. Muito mais.
Não conseguimos chegar até ela antes que a matassem, sem dó nem clemência. Apenas para nos atingir naquilo que somos mais frágeis; a guarda real nunca perde uma batalha. Continuamos assim, mas agora carregamos o fardo do fracasso naquilo que era mais importante; tua vida, minha princesa de olhos cor de mel.
Do que me vale agora esta lança que ainda seguro nas mãos, e este escudo que já está no chão à minha frente, se eles só podem ferir, mas não podem te trazer de volta?
Manter nossa honra fala mais alto do que tudo, mas não é fácil aceitar voltar sem o que viemos buscar. Não deixa de ser uma derrota, embora a corte entenderá os acontecimentos. Não era realmente possível salvá-la; sua condenação já era fato consumido e somente um pensamento poderia chegar até ela antes que tirassem tua vida.
Meus pensamentos chegaram, mas ela não tinha como saber que eu estava lá, com minha alma. Vi seus últimos momentos, sua última agonia, e sua lealdade com seu povo antes que a degolassem. Vi tudo, de olhos fechados, num piscar de olhos enquanto meu cavalo se dirigia à aldeia. A dor assim se torna muito mais forte, e pode deixar a alma transtornada.
Sinto como se um pedaço da minha alma estivesse morrido naquele campo de batalha, aos poucos, enquanto minha lança dilacerava meus inimigos. Senti meu pescoço sendo cortado enquanto o dela também era, mas foi apenas a sensação; a dor somente ela sentiu. Minha princesa, defendestes teu reino com maior fidelidade e bravura que qualquer de teus guardas, pois por nem um segundo pensastes em nos entregar aos inimigos e nos deixar à mercê da sorte. Talvez nem mesmo, nós, soldados de tua guarda, teríamos tanta coragem. Merecias estar viva muito mais do que teus guardas que restaram, incluindo eu, que lutou, mas foi derrotado pelo destino.
Poderíamos ter trocado nossas vidas pela tua, mas nem isto tivemos coragem de propor; entramos já em batalha almejando tudo, quando poderíamos sair com apenas uma conquista, mas que valeria por toda dor que poderíamos passar: tua vida.
Com certeza os inimigos aceitariam a vida de toda a guarda real em troca da tua, pois seria mais vantajoso para eles, mas tua guarda foi tão confiante que acreditou que nada poderia ser mais forte do que eles.
Agora, aqui, sentados em valas onde os corpos estão jogados, estamos nós, os poucos que sobraram da guarda, mas que já não encontram motivos para voltar ao nosso reino. Voltaríamos porque?
Perdemos o sentido de nossas vidas, perdemos o amor pela coroa e por nosso brasão. Sentimos-nos traidores da lealdade do corte, por não ter conosco a vida de nossa princesa. Sentimos-nos fracassados.
As águas que correm pelo meu rosto caem como gotas de sangue que saem pelos meus ferimentos, e doem da mesma forma. Será que algum dia encontrarei a paz novamente se deixei-te escorregar por entre meus dedos porque quis ter tudo ao mesmo tempo?
A glória, o reconhecimento, a vitória e tua mão.
Eu não precisava de mais nada, a não ser tua mão. Agora não tenho mais nada. Somente tenho nas mãos os calos de um cavaleiro das sombras, que carrega sempre consigo uma arma e um escudo, que me protegem e ao mesmo tempo me ferem, em sinal que a luta não leva a paz, mas somente à dor.
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